Histórias da Vida

eu sinto me um passarinho sem ter asas para voar...feito rio em correntezas procurando pelo mar

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Saturday, May 30, 2009

FREI TEIXEIRA, O DESPERTAR DE UMA VOCAÇÃO




ÚNICO PADRE FRANCISCANO NATURAL DO ALENTEJO NO MUNDO, É CAPELÃO MILITAR Tenente-Coronel DO EXÉRCITO É FUNDADOR DA OBRA HUMANITÁRIA DE AJUDA À POPULAÇÃO DA ILHA DE MOÇAMBIQUE (
Associação de Ajuda Fraterna à Ilha de Moçambique). ANTÓNIO TEIXEIRA NATURAL DE ALCARIA RIBA CONCELHO DE MÉRTOLA DISTRITO E DIOCESE DE BEJA.


Nelson Lisboa - Frei Teixeira, sendo de uma Região onde se ordenam muito poucos Padres, como surgiu a sua vocação?

Frei Teixeira - os meus Pais eram pobres e eu queria estudar, como eles não podiam pagar os meus estudos eu estava condenado a ficar apenas com o ensino básico. Então o Pároco da minha terra em colaboração com outro padre de Beja que tinha contactado muito com a Obra dos rapazes do Padre Américo (Casa do Gaiato) criou uma réplica em Beja fui apresentado a esse padre e fui um desses rapazes que ele ajudou para que eu pudesse continuar os meus estudos e singrar na vida.

N.L. Como é que começou a sentir esse chamamento de ir para o Convento e para a Ordem de S. Francisco?

F.T. Eu pretendia tirar um curso de económicas e financeiras, era essa área que me sentia vocacionado, mas via aquele Homem de Batina preta diariamente toda enfarinhada de carregar sacos de farinha da CARITAS para fazer Pão para nós, e a determinada altura parece que houve um flash que me deu, que eu disse para mim próprio, “eu posso ser como este homem, eu posso pôr-me ao serviço dos mais necessitados e posso encarnar na minha vida valores que ele tem na vida dele” e foi assim a minha vocação. Devo dizer que nessa altura eu já tinha dezoito anos, tinha já a minha vida orientada para outras coisas, sabia bem o que queria, só que senti aquele chamamento deixei os outros projectos e fui.

N.L. - Mas podia ter ido para o Seminário de Beja, porquê irmão Franciscano?

F.T. - Porque entretanto houve um Padre Franciscano que foi a Beja fazer uma conferência e alguém que já sabia das minhas intenções pô-lo em contacto comigo e convidou-me a vir passar uns dias ao Convento da Luz em Lisboa, onde fiquei três semanas a conviver com os irmãos, e descobri que tudo aquilo que eu tinha planeado ser como aquele Padre, nada me ofuscava se eu entra-se na ordem franciscana!, Então eu entrei …E hoje sou Padre e irmão dessa ordem.

N.L. - Como reagiram os seus Pais?

F.T. - mal eles não queriam e tinham vergonha porque não era hábito naquelas terras alguém ir para padre e eles estimulavam-me para que eu saísse mas eu sabia qual era o meu caminho e segui-o, depois com o apoio da minha única irmã lá foram aceitando com naturalidade.

N.L. - Em que Ano nasceu?

F.T. - Nasci em 1949 e o primeiro contacto com a Ordem foi em 1968, parece que ainda estou a ver o primeiro irmão vestido de frade lá no Convento! Eu tinha já o quinto ano da Escola industrial, depois já sobre a orientação dos irmãos franciscanos fiz o antigo sexto e sétimo ano, depois fiz o Noviciado que é um ano e um dia e completei essa fase no dia de S. Francisco 4 de Outubro de 1971.Depois fui aluno da Universidade Católica mais sete Anos e fui ordenado padre em 15 de Julho de 1979.

N.L. - Durante todo esse trajecto nunca se sentiu tentado a abandonar esse seu caminho?

F.T. - Olhe… Claro que isto da vocação é como os dias do Ano, uma dias são mais claros outros dias mais escuros… Mas a gente sabe sempre que o Sol existe mesmo que não esteja às claras e desde que a gente tenha esta referencia as dificuldades tornam-se mais fáceis! Tive muitas, interroguei-me e questionei-me muita vez, houve inclusivamente gente que tentou entortar-me o caminho mas eu sou um lutador e com a ajuda de DEUS lutei e venci.

N.L. - Depois de ordenado Padre onde foi colocado?

F.T. - Como coadjutor do Padre MANUEL CARREIRA DAS NEVES na IGREJA DE NOSSA SENHORA DA LUZ EM CARNIDE estive lá durante um ano, depois fui colocado mais outro Ano Pastoral no Convento de S. Francisco em Faro.

N.L. - Entretanto teve que ir para o serviço militar?

F.T. Pois entretanto apareceu-me a GNR com uns papeis para ir para a Tropa obrigatória e lá fui eu para o Regimento de Infantaria de Beja que era o meu distrito, era Alferes e passado dois anos entrei para o quadro permanente do EXÉRCITO onde ainda estou, fiquei sete anos em Beja para dar apoio á família por motivo de um problema familiar que aconteceu, depois fui sendo colocado em várias unidades militares onde a estrutura do serviço religioso achava por bem me colocar e agora estou colocado sobre a orientação do meu Bispo D. Januário Torgal Ferreira e actualmente sou Capelão do Lar de OEIRAS DOS SEVIÇOS SOCIAIS DAS FORÇAS ARMADAS, DA ESCOLA DE SERVIÇO DE SAUDE MILITAR E AQUI DO NOSSO REGIMENTO DE ENGENHARIA N.º 1 ao qual eu queria aqui referir que você NELSON neste quartel é o meu interlocutor para as coisa religiosas. Neste Regimento você é uma pessoa respeitada por todos e tem uma capacidade de liderança para junto dos jovens de os movimentar sobre o ponto de vista religioso e se me está a entrevistar na qualidade de capelão desta unidade esta entrevista ficaria truncada se eu não dissesse que o braço esquerdo e braço direito está no Sr. Nelson Lisboa.

N.L. - Frei Teixeira esteve no Líbano Fazendo parte da UNIDADE DE ENGENHARIA2, fale-nos dessa experiencia?

F.T. - Foi uma experiencia muito rica em todos os aspectos, acompanhar os nossos militares em missões de paz é muito enriquecedor espiritual e familiarmente éramos um grupo muito unido desde o comandante ao soldado tive sempre um grande apoio de todos nas actividades religiosas e sociais que realizei e a nossa UNIDADE realizou um grande trabalho a nível de construções horizontais e verticais tanto para outras forças militares estrangeiras como para a população civil daquela região devastada pela Guerra em 2006. Já agora queria salientar que o seu filho Primeiro-sargento de transmissões, Rui Lisboa fez parte desta força e deu um grande apoio ao Capelão sempre que eu precisava estabelecer algum contacto para o exterior o Rui estava sempre disponível e com grande profissionalismo e simpatia cumpria a sua missão, foi um privilégio estar no meio daquela gente.

N.L. - Tenciona fazer mais uma missão no Líbano?

F.T. - Recebi um honroso convite do Sr. Tenente Coronel Pires, que vai comandar a próxima missão e eu respondi de coração que essa decisão estava nas mãos do Meu Bispo D.Januário Torgal Mendes Ferreira, se ele decidir que eu vá, eu vou…

N.L. - Fale-nos agora da sua OBRA HUMANITÁRIA NA ILHA DE MOÇAMBIQUE?

F.T. - Isto começou assim, não sei se sabe que os capelães militares estavam isentos de pagar IRS até há dois ou três anos até á entrada da nova CONCORDATA e graças a essa isenção eu comecei a ir anualmente no meu tempo de férias para Moçambique E DAR UMA FINALIDADE HUMANITÁRIA à fatia que não me era descontada e então fundei cá em Portugal a ASSOCIAÇÃO DE AJUDA FRATERNA À ILHA DE MOÇAMBIQUE e seu distrito, é uma espécie de AMI EM PONTO PEQUENO, dá apoio às pobres gentes da Ilha de Moçambique e seu distrito e assim temos feito uma actividade copiada no bom sentido da AMI levando Médicos, Enfermeiros e Professores para aquela gente, neste momento já não estou isento mas as pessoas uniram-se a mim associaram-se e com as quotizções e outros donativos que me dão nas igrejas por onde eu passo nós conseguimos alguma ajuda para aquela pobre gente, ainda há dias os ROTÁRIOS DE ÉVORA nos deram uma ajuda económica para fundarmos uma escolinha no Mato em Moçambique, fui à América e as comunidades de imigrantes deram-nos um carro que está a servir de ambulância na ilha de Moçambique, deram-nos dinheiro para um Barco porque a ponte estava ruir e o barco é uma mais valia para fazer a ligação entre a Ilha e o continente no caso da ponte cair etc. Esta associação actualmente é presidida por uma Advogada de Mafra que é a Doutora Fátima Costa.

N.L. - O Frei Teixeira disse-me que muitas vezes levava para aquela gente enxadas?

F.T. - Pois é das coisas que mais gosto de levar actualmente já não levo porque são pesadas e é preferível levar dinheiro e compra-las lá, devo dizer que uma enxada custa metade de um Maço de tabaco e com essas enxadas nós fazemos maravilhas levamos também as sementes e aquela terra é muito produtiva e assim matamos a fome aquela gente de maioria muçulmana mas nós olhamos a credos nem a religiões é o ser humano que está em causa, de salientar que os estatutos da nossa associação estão publicados em diário da Republica.

N.L. - o Frei Teixeira disse-se-ma vez que o velhinho Padre que lá se encontrava quase passava fome…

F.T. - Ele não passava fome, ele comia era sempre a mesma coisa porque não havia outra… As roupas dele e paramentos era tudo muito usado se num ano trazia vestido uma camisola no ano a seguir trazia a mesma mas não era que não tivesse… É que ele dava tudo e depois não tinha para ele, e eu quando lá ia levava-lhe sempre coisas que lhe faziam falta uma das coisas que fiz quando fui de Beirute lá, foi abrir um lar de rapazes que ele tinha lá mas que devido á idade ele já não conseguia controlar e fechou eu fui lá e reabri-o e agora quem toma conta é um padre nativo que o substituiu porque ele já era octogenário e já veio para Portugal e agora está cá a viver num lar da terceira idade.

N.L. - O Frei Teixeira também pagou os estudos a um jovem no Colégio Militar…

F.T. - Isso foi um filho de um antigo soldado… Este homem de vez em quando aparecia no meu gabinete dizia-me que ele não estaria a passar muito bem com a mãe, não era que ela lhe desse maus tratos, mas estava com muita dificuldade… Um dia custou-me muito ouvir chorar o miúdo ao colo do pai e o este a dizer que não sabia o que havia de fazer e que a mãe andava por caminhos menos bons… Aquela situação enterneceu-me de tal modo que combinei com o pai em matricula-lo no Colégio Militar que é interno e assim foi… paguei-lhe os estudos durante os oito anos que lá andou e dediquei-me a ele como se de um filho se tratasse, agora está a estudar cá fora, está bem encaminhado e inserido na família da sua Madrinha.

N.L. - Frei Teixeira qual a sua opinião sobre a actual Igreja em Portugal?

F.T. - Eu creio que a Igreja precisa de dar mais passos para se por em dia, para se ajornar, não caindo no facilitismo que a palavra ajornar, como dizem os italianos, possa parecer ter …. A igreja precisa de mostrar os seus valores, que são os de sempre e continuarão a ser, mas tem de usar uma roupagem e linguagem mais adaptados aos tempos modernos… As dificuldades que a Igreja tem hoje passam por uma linguagem um bocado hermética e não facilmente entendida por muita gente. A mensagem é extraordinariamente bela, é a mensagem de Cristo…Mensagem de salvação… Um dos maiores riscos que a Igreja corre é a de ser entendida com de uma velharia, quando afinal é uma riqueza porque tem a pulsar dentro de si o coração de Cristo porque deu a vida por ela.

N.L. - Frei Teixeira quando se reformar do serviço militar o que pensa fazer?

F.T. - Em princípio recolho ao meu convento e à obediência dos meus superiores, mas tenho a dizer que me custa muito deixar os militares e muitas vezes dou por mim a pensar no dia em q entro na reforma e quero estar a fazer mesmo o que fiz no dia anterior, talvez desfardado, talvez não…. (pausa) Quero continuar a visitar velhinhos nos lares 3ª idade, até porque militares que conheci há trinta anos, hoje estão nos lares militares da 3ªidade….Um dos quais eu sou capelão…para mim é muito gratificante ter contacto com essa gente que me faz ter amizade e grande estima….

N.L. - Partilhe connosco a história do invisual que você ajudou a atravessar a rua…

F.T. - (risos) Eu vi que ele ia a bater com a bengala nos pneus dos carros, deitei-lhe a mão e ele sacudiu a minha mão quando viu que era uma voz de homem e disse “ainda se fosse uma mulher” …E eu senti-me indignado, porque no meu coração estava o espírito de ajuda de pôr os meus olhos nos olhos dele que não via e ele menos bem me tratou…Fiquei um pouco amolgado de maneira que...olha...assim ficou…

N.L. - A entrevista já vai longa mas muito interessante não sei se o frei Teixeira quer dizer mais alguma coisa se quiser faça o favor…

F.T. - Só quero lhe transmitir também a minha estima e admiração por si e que o Sr. Nelson não se coibisse na sua modéstia para o bem e a estima que tenho por si e aquilo que reconheço e torno a dizer que desde o Comandante até ao Soldado mais moderno da Unidade todos o estimamos e todos contamos consigo para estas coisas da fé para além do seu profissionalismo que é exemplar, a sua dedicação, as coisas da capelania honra-me muito e sinto-me muito apoiado, muito obrigado e também ao Director do Jornal.

Entrevista conduzida por

Nelson Lisboa

Dez 2008

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