Histórias da Vida

eu sinto me um passarinho sem ter asas para voar...feito rio em correntezas procurando pelo mar

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Location: Portugal

Saturday, January 07, 2006

CARTA A UM AMIGO QUE PARTIU DESTE MUNDO

Tio Joaquim, esta era a carta que nunca queria escrever, mas este Mundo Cão em que vivemos prega-nos partidas que nos deixam estarrecidos de raiva com os contornos violentos que as rodeiam. Foste barbaramente assassinado neste último final de ano na terra que mais amavas e onde querias viver para sempre a tua Cidade do Rio de Janeiro, para onde emigraste há quase cinquenta anos, durante esse tempo vieste a Portugal duas vezes onde tive oportunidade de te conhecer melhor, eras uma Pessoa muito franca amigo do seu amigo, muito alegre e com um grande sentido de humor. Tive então oportunidade de contigo conviver e de te mostrar alguns dos locais mais bonitos deste nosso Portugal, mostrei-te esta nossa linda Cidade de Lisboa que tu muito apreciaste, lembras-te do passeio que demos ao Porto e ao Minho, as paisagens do Douro e do Marão naquelas estradas estreitinhas que te causavam algum pavor, mas que no final estavas feliz por teres visto tanta beleza! Eras assim uma pessoa cheia de vida sempre pronto para uma boa anedota. Muitos Pendilhenses que visitaram o Brasil e o Rio encontraram em ti uma pessoa prestável que levavas a conhecer melhor a cidade sem nada cobrares e muitas vezes ainda lhes pagavas a refeição. Foi o que aconteceu comigo quando em 98 fui a esse País e me levaste e trouxeste de volta, á Cidade de Juiz de Fora em Minas Gerais e depois me levaste a conhecer por dentro e por fora a Cidade Maravilhosa do Rio, sabias que eu queria ver tudo por isso visitamos a zona sul que é aquela que parece toda a gente conhece e fala, mas também os guetos as favelas os morros a Baixada fluminense etc. em todo o lado havia locais de interesse, tu levaste-me a esses locais sempre com prudência e muito cuidado, porque nesse aspecto não facilitavas, ainda me lembro uma vez já de noite na praia do Leme em que me afastei um pouco para fazer algumas fotografias e filmar uma cena que achei interessante e protegendo-me me puxaste o braço, dizendo sai dai não te afastes porque ai é perigoso, tu que quase cinquenta anos moraste sempre no mesmo local e que é considerado perigoso lá para os lados de Estácio de Sá, lembras-te quando apontas-te aquele Muro da Universidade todo crivado de balas bem perto da tua casa e me disseste com a maior descontracção isto é troca de tiros entre policias e marginais, depois fiquei uma noite em tua casa e tu me disseste dorme bem, mas se de noite ouvires tiros não te admires porque uma noite que não haja fogo a gente já não consegue dormir! Tu até ironizavas com o perigo, por isso viveste ali quase 50 anos porque eras uma pessoa respeitada e todos os vizinhos gostavam de ti, foi preciso vir aquela fatídica noite de 30 de Dezembro bem longe de onde moravas, e eventualmente por pouca centenas de Reais foste barbaramente e covardemente assassinado e o teu corpo desprezavelmente abandonado. Tu que tinhas dois cachorrinhos o Bituka, e o outro que já não sei o nome eram os teus fieis companheiros que zelosamente deles cuidavas, e que dizias ao telefone que já não vinhas a Portugal porque os cachorros iam morrer de saudade, tiveste agora que os deixar sem te poderes despedir deles, não te despediste de ninguém nem dos teus clientes de há muitos anos, nem dos amigos, nem daqueles que te eram mais próximos e cuidavam de ti, a todos deixas uma grande uma grande saudade e lá onde estiveres que estejas feliz, sei que aqui na terra havia quem achasse que levavas uma vida errante não de acordo com um catolicismo dominador das nossas aldeias em décadas passadas, mas eras uma pessoa sensível e criativa e que nunca deixa cair os amigos, qualidades só as pessoas consideradas errantes possuem, com um abraço de saudade e até um dia tio Joaquim Silvestre.

ASSASSINADO NO RIO DE JANEIRO

Infelizmente a trágica noticia chegou, o corpo de Joaquim Silvestre foi encontrado sem vida no dia 5 de Janeiro, próximo do local onde tinha sido encontrado o seu táxi, segundo informações que me chegaram o seu funeral realizou se ontem, assim termina este trágico acontecimento.

Wednesday, January 04, 2006

JOAQUIM SILVESTRE ESTÁ DESAPARECIDO DESDE 30 DE DEZEMBRO 2005


Joaquim Silva Santos, de 67 anos de idade, estado civil solteiro, natural de Freguesia de Pendilhe, concelho de Vila Nova de Paiva, Distrito de Viseu. Emigrou para o Brasil em 1959, Onde é Motorista de Táxi há mais de quarenta anos na Cidade do Rio de Janeiro, Residiu sempre até á data do seu desaparecimento na rua do Bispo nº 17, Rio Comprido, muito próximo do Hospital português CASA DE PORTUGAL.
Trabalhava com o Táxi, um wolkswagem gol, de manhã até ao meio dia, depois almoçava e voltava a ir trabalhar entre as dezoito e as vinte e três horas, desapareceu no dia 30 de Dezembro de 2005 quando foi fazer o turno da noite, o seu carro foi encontrado pela Policia do Rio de Janeiro com as portas destrancadas e os documentos intactos lá dentro no Bairro do Flamengo. O seu Ponto de Paragem habitualmente, para apanhar passageiros era na Avenida Rio Branco, centro do Rio, mesmo junto á lanchonete PASCUALINO, onde por vezes tomava suas refeições e era bastante conhecido por Português, muito próximo está uma banca de jornais que é dum Italiano que também o conhece assim como um Sr. Que vende Pipocas naquele local, era muito conhecido por vários estabelecimentos daquele local muito próximo da Igreja da Candelária onde tinha clientes habituais. Há uns anos passados foi acordeonista dum Rancho folclórico da Casa dos Poveiros. O Joaquim que era meu tio por parte da minha mulher, era uma excelente pessoa, amigo do seu amigo, e como se custuma dizer ninguém tinha fome ou sede quem com ele convivesse, portanto não se lhe conhecia inimigos, conhecia o Rio de Janeiro como a palma das suas mãos, era cuidadoso e prudente a conduzir o seu táxi. Em 1998 visitei o Brasil, e tive oportunidade de conviver com o tio Joaquim, foi ele que me levou a todo o lado no Rio de Janeiro e até a Minas Gerais mais concretamente á Cidade de Juiz de Fora. Era ele que sobretudo no Rio de Janeiro me levou aos lugares mais obscuros, onde muitos não se atrevem a ir ou por receio ou porque não é interessante, mas eu queria ver tudo, vi a zona sul que é a parte rica que toda a gente fala quando visita a cidade maravilhosa mas vi tambem os morros, a baixada fluminense, etç. E era o tio Joaquim que quando me via afastar-me mais um pouco para tirar uma ou outra fotografia, ou fazer alguma filmagem me chamava e prudentemente me dizia nelson sai dai já que é perigoso. Ele sempre morou muito próximo de um desses morros, foi ele que me mostrou um muro de uma universidade próximo de casa dele todo crivado de balas trocadas entre policia e marginais, e me disse, se entrares aqui sózinho um dia passas á vontade, mas se vieres um segundo dia sem ser acompanhado já não entras, uma noite que fiquei em sua casa disse-me «Nelson, se durante a noite ouvires fogo não te preocupes, porque uma noite que não haja tiros entre policias e marginais a gente já não dorme bem». E foi assim com estas aventuras ao longo de cinquenta anos neste local do Rio de Janeiro o tio Joaquim desaparece num Fim de Ano sem se despedir de ninguém deixando seus familiares e amigos inconsoláveis, dadas as circunstancias do seu desaparecimento.

HENRIQUE MONTEIRO É O NOVO DIRETOR DO SEMANARIO EXPRESSO




A partir de Janeiro o Dr. Henrique Monteiro assume a Direcção do mais antigo e prestigiado Jornal Semanário da imprensa Portuguesa, no qual tem desempenhado o cargo de subdirector desde 1995, substituindo o actual Director, José António Saraiva, que dirigiu o EXPRESSO nos últimos vinte e dois anos e agora passará a dirigir todas as publicações de imprensa do grupo IMPRESA de Pinto Balsemão.
O Dr. Henrique Monteiro nasceu em Lisboa, em 1956, é oriundo de famílias do Concelho de Vila Nova de Paiva, mais concretamente de Pendilhe e de Alhais, foi aluno do Colégio Moderno, fez o curso de História na Faculdade de Letras de Lisboa, tendo posteriormente estudado jornalismo nos EUA. Jornalista Profissional desde 1977, é responsável de alguns dos magazines do mesmo Jornal, é autor de Cartas Abertas do Comendador Marques de Correia crónica de humor publicada semanalmente no magazine ÚNICA, é também analista politico na SIC-NOTICIAS, onde tem junto com outros analistas analisado as ultimas eleições autárquicas, e agora as Presidenciais. É autor do Livro Papel Pardo, uma obra romanceada escrita entre Lisboa e Pendilhe em 2001 e 2002 publicada pela BERTRAND EDITORA e cujo enredo se desenrola na década de sessenta nas aldeias do Alto Paiva mais incisivamente entre Alhais e Pendilhe, é um enredo misterioso que á medida que se vai lendo vai se adensando deixando o leitor amarrado até á ultima linha.